O Sucesso de Mãe e Filha
A Netflix já começou a contabilizar o sucesso do lançamento dos quatro especiais de Gilmore Girl – Um Ano para Celebrar, que reuniu o elenco original da série que estreou em 2000 na Warner.
Quando o primeiro trailer dos especiais de Gilmore Girls foi
divulgado pela Netflix, confesso que tive de me conter. O diálogo travado na
cozinha entre Lorerai Gilmore, deliciosamente interpretado por Lauren Grahan, e
sua filha Rory, num trabalho competente de Alexis Bledel, trouxeram de volta
para mim uma emoção que senti quando descobri a série na terceira temporada.
Por que tão tarde? Explico: tinha assistido o piloto da série meses antes do Warner Channel levar ao ar a primeira temporada em outubro de 2000 e tinha nada que me atraísse naquele piloto. Já conhecia Lauren Graham de outras participações em comédias como Tudo por um Gato (Multishow 1995), Newsradio (Sony, 1997) e Conrad Bloom (Sony, 1998). Ou seja, me parecia mais do mesmo. Ledo engano, claro.
Quase quatro anos se passaram da estreia da série, quando minha filha vem passar as férias comigo e, literalmente, me obriga a assistir Gilmore Girls com ela. Foi só um único episódio que nem lembro mais, mas me pegou de uma tal forma, que no dia seguinte comecei a assistir a exibição das primeiras temporadas que a Warner fazia da série na faixa da manhã. E uma vez mais, fiquei apaixonado com a dinâmica, o roteiro, os personagens, as histórias das garotas Gilmore, incluindo a fantástica Emily, interpretada pela veterana atriz Kelly Bishop, que esteve na clássica série Havaí 5-0 num de seus primeiros trabalhos.
Mas depois de sete temporadas e muita emoção transformada em lágrimas (minhas e não da minha filha), a série terminou de uma forma que não curti muito. Aí, o rolo compressor chamado Netflix decidiu dar a Amy Sherman-Paladino, criadora da série, dar uma chance a ela de finalizar a história dessas fantásticas mulheres e seus humores maravilhosos, numa produção exclusiva. E para surpresa de todos, quatro longas-metragens com 90 minutos de duração, divididos pelas estações do ano Inverno, Primavera, Verão e Outono. E que surpresa...
Além de um roteiro primoroso, trazendo o melhor da filosofia da série original, a produção teve a sorte de contar com a participação de praticamente todo o elenco que esteve na sete temporadas. A única exceção foi Edward Hermman, o patriarca da família Gilmore, Richard, que faleceu em 2014. O ultimo grande nome que confirmou sua participação nos especiais foi Melissa McCarthy, que fazia a melhor amiga de Lorelai, Sookie. Como a atriz está com a bola toda depois que ganhou o EMMY por Mike e Molly, e sua carreira de sucesso no cinema, a agenda de Melissa estava muito complicada. Durante o programa de Ellen DeGeneres, contudo, ela confirmou sua participação nos especiais.
Existem algumas curiosidades divertidas que é possível ver durante os quatro episódios. A primeira delas é a participação dos colegas de Lauren que trabalham na outra série de sucesso da atriz, Parenthood – Uma História de Família, exibida hoje pela GNT: Mae Whitman que faz a Amber, filha rebelde de Lauren na série; Jason Ritter interpretando o primeiro namorada da divorciada Sarah Braverman (Lauren); e o irmão de Sarah, Adam, feito por Peter Krause, de à Sete Palmos, e que também é, na vida real, companheiro de Lauren.
A história em si, para quem é fã da série original, é divertida do começo ao fim. Mas o que me chamou a atenção dos especiais não foi apenas a evolução cronológica dos personagens que, em tese, estão mais maduros. Mas o fato de que a história de Lorelai com o pai falecido é a base de sustentação da própria história. Ela começa com um incidente que ocorre no Inverno e tem uma emocionante conclusão no Outono. Para os desavisados: lenços de papelo são recomendados.
Em paralelo, acompanhamos Rory e sua constante inabilidade de viver sua própria vida, algo que acabei descobrindo ao longo de sete temporadas. Rory, minha especulação, seria a Lorerai que seus pais gostariam que ela fosse se não engravidasse na adolescência. Você que é fã sabe que Rory, muitas vezes, parece ser a garota que na superfície é super legal, mas esconde muito bem que a mãe a mimou demais. Tanto que todas as vezes que Rory e Lorelai tem alguma discussão série, quem acaba cedendo é a mãe. Esse jogo de sentimentos vira de ponta cabeça durante os longas, revelando a total insegurança de cuidar de sua própria vida.
É difícil, com tudo isso visto em seis horas ininterruptas, escolher os melhores momentos de Gilmore Girls – Um Ano para Recordar. Na minha memória, contudo, existem dois momentos que acontecem coincidentemente no Outono, que são sensivelmente maravilhosos: o diálogo de Lorelai e Emily sobre Richard; e a discussão de Luke (o divertido Scott Patterson) e Lorelai na cozinha. E sim, é necessário lenços de papel nessas duas cenas.
Muitos vão dizer que será necessário mais um longa para completar a saga das Garotas Gilmore, já que existe pelo menos uma história em aberto. Não considero como final aberto a ultima cena do Outono. Como o próprio título diz, esses quatro especiais foram feitos para recordar. E recordar é viver... mais lenços de papel, por favor...