In Memoriam – Olivia De Havilland (1906 – 2020)

Vencedora do Oscar por E O Vento Levou, o cinema perde uma das últimos atrizes da Era de Ouro de Hollywood, de causas naturais aos 104 anos.

publicado por Paulo Gustavo em 27/07/2020 13:57:00

Um ano após se tornar uma das últimas atrizes centenárias de Hollywood, Olivia de Havilland entrou com uma ação na justiça contra a produção da antologia Feud, criada por Ryan Murphy (Glee), mostrando a rivalidade entre as atrizes Bette Davis e Joan Crawford durante as filmagens do clássico de suspense O Que terá acontecido à Baby Jane?, em 1962, com direção de Robert Aldrich. Segundo ela, sua participação durante o conflito e representada por Catharine Zeta-Jones não correspondia aos fatos daquele período. O processo não foi à frente mas mostrou pra muitos, que a centenária atriz, que faleceu no final de semana em sua casa em Paris, estava muito ligada ao que acontecia em Hollywood.

Olivia e Joan

Olivia e a irmã, a também atriz Joan Fontaine (Rebecca – A Mulher Inesquecível), nasceu em Tóquio, em 1916, filhos de professores britânicos, que saíram do Japão e foram para a Califórnia três após o nascimento da primogênita. Assim que se formou no colegial, Olivia ingressou na escola  Mills Colege, em Oklahoma depois que descobriu que gostava de atuar. Foi numa apresentação de Sonhos de Uma Noite de Verão, que ela foi abordada pelo diretor Max Reinardt. Entusiasmado com a performance da atriz ele a chamou trabalhar na adaptação para o cinema dessa comédia romântica de Shakespeare, lançada em 1935, como Hermia.

Com Joe e.Brown, em Esfarrapando Desculpas


Com James Cagney em O Filhinho da Mamãe


Com Errol Flynn, em Capitão Blood

Sonhos foi o terceiro filme que a atriz havia feito naquele ano, junto com seu debut  Esfarrapando Desculpas, com o comediante Joe E. Brow, e O Filhinho da Mamãe, ao lado de uma das mais importantes estrelas da Warner Bros. James Cagney. Foi com Sonhos de Uma Noite de Verão que ela mostrou seu talento, que lhe rendeu um contrato com a Warner que a colocaria na lista das grandes estrelas de Hollywood da Era de Ouro do Cinema.


As Aventuras de Robin Hood

Seu próximo filme foi Capitão Blood, estrelado pelo então desconhecido ator australiano Errol Flynn. O sucesso do filme e a química entre o casal fez com que a dupla se transformasse nos queridinhos da América, trabalhando em mais 7 filmes, entre eles o clássico As Aventuras de Robin Hood (1938), filmado em tecnicolor, um grande avanço na projeção de filmes. Após Robin Hood, os dois fizeram A Carga de Cavalaria Ligeira (1936), Uma Cidade que Surge (1939), Amando Sem Saber (1938), Meu Reino Por um Amor (1939), A Estrada de Santa Fé (1940), Graças à Minha Boa Estrela (1943) e O Intrépido General Custer (1941). Muitos diziam que os dois eram muito mais do que dois bons amigos e colegas de trabalho. Mas isso, fica para as lendas de Hollywood.


E o Vento Levou...

Em 1939, porém, Olivia definitivamente entrava para a história do cinema, ao trabalhar no maior clássico de todos os tempos, E O Vento Levou... adaptação do best seller de Margareth Mitchell. Ela interpretava a doce e cândida Melanie que, sem saber, era vista com desprezo pela prima Scarlett (Vivien Leigh), por casar com o homem que a garota amava. Olivia foi indicada ao Oscar como Melhor Atriz Coadjuvante.

A atriz subiu ao palco duas vezes para receber seu merecido Oscar por suas excelentes atuações em Só Resta uma Lágrima (1946) e Tarde Demais (1949), quando atuou ao lado de Montgomery Clift. Ela também foi indicada como Melhor Atriz em A Porta de Ouro (1941) e Na Cova da Serpente (1948).


Com um estilo próprio de atuação, o público adorava como interpretava mulheres aparentemente fragilizadas, mas que conseguiam virar o jogo para um final feliz. Ela também era agora, especialmente pela crítica, quando transformava aquele olhar tímido em algo furioso e temido quando interpretava personagens negativos. O diretor Mervyn LeRoy, com quem trabalhou no filme Adversidade (1936), costumava dizer que Olivia nascera atriz, com uma dicção soberba, ela sabia transmitir qualquer inflexão pedida por um diretor numa cena, com a precisão de um piano bem afinado.


A Briga...


e a Reconciliação

Olivia e sua irmã Joan Fontaine ficaram anos, pela disputa constante no trabalho. Em 1941, Olivia perdeu o Oscar de Melhor Atriz por A Porta de Ouro, para Joan, que faturou o Oscar pelo trabalho no filme de Hitchcock, Rebecca – A Mulher Inesquecível. Quando ganhou o Oscar por Só Resta uma Lábrima, Joan foi nos bastidores cumprimentar a irmã, que lhe virou as costas. Isso poderia ter passado batido pela confusão que são os bastidores do Oscar, se um fotografo não tirasse uma foto naquele exato momento.

Mesmo atuando regularmente no cinema nas décadas de 50 e 60, Olivia não deixou de lado sua paixão pelos palcos. Mas também começou a fazer participações especiais em séries de Tv, como The Big Valley. A partir dos anos 70, começou a fazer telefilmes e participações em minisséries. Trabalhou nas minisséries Raízes – A Nova Geração (1979), O romance real de Charles e Diana (1982), e a viúva imperatriz Maria em Anastasia: o mistério de Anna (1986). Seu ultimo trabalho foi no telefilme A mulher que ele Amou, sobre o romance entre o indicado ao trono britânico, Edward VIII e a americana divorciada Wallis Simpson.

O presidente da França, Nicolas Sarkozy e a atriz Jacqueline Bisset


Na França, onde a atriz era amada, recebeu a prestigiada Legião de Honra, em 2010, do então presidente Nicolas Sarkozy. Ela foi a primeira mulher a presidir o júri do Festival de Cinema de Cannes, em 1965. Paris, onde mantinha residência, foi o último adeus da grande dama do cinema. 

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